quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Gênero: Educação Profissional e Tecnológica

O conceito de gênero surgiu após muitos anos de luta feminista e de formulação teórica na tentativa de explicar a opressão das mulheres. As primeiras a utilizarem o conceito foram as norte-americanas e as inglesas. É um conceito que coloca o ser mulher e o ser homem como uma construção social, a partir do que é estabelecido como feminino e masculino bem como os papéis sociais destinados a cada um. Essas relações são uma construção social, isto é, não estão determinadas biologicamente. A definição de masculino e feminino está associada ao que cada sociedade, em cada momento histórico define como próprio de homens e mulheres. A construção de gênero se dá em todas as esferas da sociedade: economia, política, social e cultural.

O debate sobre Educação Tecnológica esteve presente no Brasil, desde a chamada "Revolução de 30", pois o rompimento do modelo agrário-exportador para o urbano-industrial trouxe mudanças no ensino médio com a seriação. Surgem também na década de 40 os Sistemas nacionais de Formação Profissional: SENAI (Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial) e o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).

Na década de 80 com o debate a sobre a LDB ( Lei de Diretrizes e Bases da Educação) novamente trava-se na sociedade uma disputa ideológica sobre formação técnico-profissional iniciado principalmente pelas mudanças no mundo do trabalho. A reestruturação produtiva introduzida pelas novas tecnologias e por novas formas de organização da produção, a globalização econômica capitalista e o neoliberalismo provocou mudanças significativas na vida dos trabalhadores e das trabalhadoras. (CARNEIRO, 1998).

Essas mudanças são acompanhadas pelo aumento significativo da inserção feminina no mercado de trabalho. Inserção que deve ser considerada como uma importante barreira transposta, na medida em que as mulheres vão quebrando os muros do mundo doméstico, universo típico feminino para o público. Entretanto:

“È evidente que a ampliação do trabalho feminino no mundo produtivo das últimas décadas é parte do processo de emancipação parcial das mulheres, tanto em relação à sociedade de classes quanto às inúmeras formas de opressão masculina, que se fundamentam na tradicional divisão social e sexual do trabalho. Mas – e isso tem sido central – o capital incorpora o trabalho feminino de modo desigual e diferenciado em sua divisão social e sexual do trabalho”. (ANTUNES, 1999. p.110)

É importante considerar que nos primórdios da formação histórica das sociedades humanas, a mulher teve um papel decisivo na apropriação da técnica, pois os primeiros artefatos de pedra lascada, segundo Rose Marie Muraro, foram “úteis para cortar e processar vegetais, mas não para caçar animais de grande porte.” (1992, p.25).

E nestas comunidades primitivas que se da a primeira divisão do trabalho com base na idade e no sexo (divisão sexual do trabalho). Enquanto lidavam com a natureza os seres humanos se qualificavam e transmitiam o que aprendiam a futuras gerações, por meio de um processo de qualificação que coincidia inteiramente com o próprio processo de trabalho, considerando-se a divisão sexual do trabalho, pode-se afirmar duas capacidades de trabalho, conformando a qualificação do trabalho dos homens e mulheres da coletividade. (SILVA, 2005 p. 46)

A realidade do trabalho com as inovações tecnológicas não vem apontando para a possibilidade da construção da sociedade mais igualitária. Cabe ás mulheres as tarefas menos qualificadas apesar de terem mais anos de estudo formal, isto só não basta para ocuparem cargos de maior posição ou salários maiores. De acordo com PNAD ( Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) 1999, os homens recebem 68,7% dos rendimentos em salário e as mulheres receberam 31,3%. As mulheres trabalhadoras sofrem das conseqüências da modernização do mundo produtivo e da flexibilização das relações do trabalho. A sua mão-de-obra é utilizada através de jornadas parciais, contratos por tempo temporário, trabalhos em domicílio em condições precárias, perdas de direitos legais e baixos salários.

A questão que pode ser levantada diante deste quadro é a seguinte: o acesso à educação tecnológica pode possibilitar uma relação de gênero mais humana no atual contexto da sociedade capitalista?

Esta proposta de pesquisa pode contribuir para uma melhor compreensão das relações entre gênero e educação tecnológica e também possibilitar uma práxis mais efetiva. Assim,

“... indispensável, portanto, é a reflexão crítica para indicar caminhos e horizontes, para não se afastar do leito da condição humana e de sua libertação. No meio da avalanche de técnicas e mutações tecnológicas, é preciso mergulhar na permanência dos conceitos, não somente na formação profissional como qualificação para o trabalho, mas de retorno à totalidade do homem capaz de compreender o mundo técnico, social e cultural”. (BASTOS, p. 2004)

Acreditamos que esta proposta poderá integrar as reflexões que o programa de desenvolvimento Educacional proposto pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná vem desenvolvendo e contribuirá para o aprofundamento das diretrizes curriculares de História e também para a Coordenadoria de Educação e Trabalho.

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