domingo, 23 de setembro de 2007

" EDUCAÇÃO NÃO É QUANTO VOCÊ TEM GUARDADO NA MEMÓRIA, NEM MESMO O QUANTO VOCÊ SABE. É SER CAPAZ DE DIFERENCIAR ENTRE O QUE VOCÊ SABE E O QUE VOCÊ NÃO SABE"

( Anatole France)

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Gênero: Educação Profissional e Tecnológica

O conceito de gênero surgiu após muitos anos de luta feminista e de formulação teórica na tentativa de explicar a opressão das mulheres. As primeiras a utilizarem o conceito foram as norte-americanas e as inglesas. É um conceito que coloca o ser mulher e o ser homem como uma construção social, a partir do que é estabelecido como feminino e masculino bem como os papéis sociais destinados a cada um. Essas relações são uma construção social, isto é, não estão determinadas biologicamente. A definição de masculino e feminino está associada ao que cada sociedade, em cada momento histórico define como próprio de homens e mulheres. A construção de gênero se dá em todas as esferas da sociedade: economia, política, social e cultural.

O debate sobre Educação Tecnológica esteve presente no Brasil, desde a chamada "Revolução de 30", pois o rompimento do modelo agrário-exportador para o urbano-industrial trouxe mudanças no ensino médio com a seriação. Surgem também na década de 40 os Sistemas nacionais de Formação Profissional: SENAI (Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial) e o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).

Na década de 80 com o debate a sobre a LDB ( Lei de Diretrizes e Bases da Educação) novamente trava-se na sociedade uma disputa ideológica sobre formação técnico-profissional iniciado principalmente pelas mudanças no mundo do trabalho. A reestruturação produtiva introduzida pelas novas tecnologias e por novas formas de organização da produção, a globalização econômica capitalista e o neoliberalismo provocou mudanças significativas na vida dos trabalhadores e das trabalhadoras. (CARNEIRO, 1998).

Essas mudanças são acompanhadas pelo aumento significativo da inserção feminina no mercado de trabalho. Inserção que deve ser considerada como uma importante barreira transposta, na medida em que as mulheres vão quebrando os muros do mundo doméstico, universo típico feminino para o público. Entretanto:

“È evidente que a ampliação do trabalho feminino no mundo produtivo das últimas décadas é parte do processo de emancipação parcial das mulheres, tanto em relação à sociedade de classes quanto às inúmeras formas de opressão masculina, que se fundamentam na tradicional divisão social e sexual do trabalho. Mas – e isso tem sido central – o capital incorpora o trabalho feminino de modo desigual e diferenciado em sua divisão social e sexual do trabalho”. (ANTUNES, 1999. p.110)

É importante considerar que nos primórdios da formação histórica das sociedades humanas, a mulher teve um papel decisivo na apropriação da técnica, pois os primeiros artefatos de pedra lascada, segundo Rose Marie Muraro, foram “úteis para cortar e processar vegetais, mas não para caçar animais de grande porte.” (1992, p.25).

E nestas comunidades primitivas que se da a primeira divisão do trabalho com base na idade e no sexo (divisão sexual do trabalho). Enquanto lidavam com a natureza os seres humanos se qualificavam e transmitiam o que aprendiam a futuras gerações, por meio de um processo de qualificação que coincidia inteiramente com o próprio processo de trabalho, considerando-se a divisão sexual do trabalho, pode-se afirmar duas capacidades de trabalho, conformando a qualificação do trabalho dos homens e mulheres da coletividade. (SILVA, 2005 p. 46)

A realidade do trabalho com as inovações tecnológicas não vem apontando para a possibilidade da construção da sociedade mais igualitária. Cabe ás mulheres as tarefas menos qualificadas apesar de terem mais anos de estudo formal, isto só não basta para ocuparem cargos de maior posição ou salários maiores. De acordo com PNAD ( Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) 1999, os homens recebem 68,7% dos rendimentos em salário e as mulheres receberam 31,3%. As mulheres trabalhadoras sofrem das conseqüências da modernização do mundo produtivo e da flexibilização das relações do trabalho. A sua mão-de-obra é utilizada através de jornadas parciais, contratos por tempo temporário, trabalhos em domicílio em condições precárias, perdas de direitos legais e baixos salários.

A questão que pode ser levantada diante deste quadro é a seguinte: o acesso à educação tecnológica pode possibilitar uma relação de gênero mais humana no atual contexto da sociedade capitalista?

Esta proposta de pesquisa pode contribuir para uma melhor compreensão das relações entre gênero e educação tecnológica e também possibilitar uma práxis mais efetiva. Assim,

“... indispensável, portanto, é a reflexão crítica para indicar caminhos e horizontes, para não se afastar do leito da condição humana e de sua libertação. No meio da avalanche de técnicas e mutações tecnológicas, é preciso mergulhar na permanência dos conceitos, não somente na formação profissional como qualificação para o trabalho, mas de retorno à totalidade do homem capaz de compreender o mundo técnico, social e cultural”. (BASTOS, p. 2004)

Acreditamos que esta proposta poderá integrar as reflexões que o programa de desenvolvimento Educacional proposto pela Secretaria de Estado de Educação do Paraná vem desenvolvendo e contribuirá para o aprofundamento das diretrizes curriculares de História e também para a Coordenadoria de Educação e Trabalho.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

TRABALHO E PERSPECTIVAS DE FORMAÇÃO DOS TRABALHADORES: PARA ALÉM DA FORMAÇÃO POLITÉCNICA

Paolo Nosella

Universidade Federal de São Carlos e Centro Universitário Nove de Julho.

Resumo

Quem não vê bem uma palavra,

não pode ver bem uma alma.

(Fernando Pessoa)

Nossa idéia central era:

como podemos nos tornar livres?

(Antônio Gramsci)


O Artigo do Professor Paolo Nosella é muito rico em conteúdo de maneira que digeri-lo apenas na leitura sem maiores diálogos pode comprometer maior compreensão do texto segue abaixo uma descrição sem fugir do que o autor aborda. Uma síntese do próprio texto.

O Texto do Professor Nosella nos informa detalhadamente os coneitos dos termos: Polítecnia que não aparece nos dicionários , polivalente é um adjetivo aplicado ao sujeito humano e politécnico(a)” é o adjetivo aplicado ao ensino, à educação ou à instituição escolar,

Se detém principalmente na análise semântica do conceito e do uso da palavra “politecnia” nos textos produzidos por educadores e intelectuais pensadores da educação e da formação desejada para os trabalhadores.

Conforme Nosella “enquanto princípio pedagógico, no entanto, o trabalho como fundamento da educação se tornou tema importante para os pedagogos e eixo principal da teoria educacional marxista.

Refere-se que o termo Politecnia na atualidade não corresponde mais a uma política educacional marxista porque a expressão foi bandeira de um outro contexto histórico.

A base teórica utilizada para o estudos são os próprios clássicos do marxismo Marx, Engels, Lênin e os marxitas autores que o interpretaram como Gramsci e textos de autores brasileiros, geralmente educadores marxistas que, abordando a relação

entre trabalho e educação, defenderam para a nossa realidade a educação politécnica.

E as pesquisas feitas utilizam duas principais correntes divergentes quanto a utilização do método investigativo criado por Marx o marxismo investigativo, contrapondo-o ao marxismo didascálico ou doutrinário.

Marx utilizou em seus textos os termos politecnia e tecnológica, e para ele politecncia como sinônimo de pluriprofissional.

A concepção politécnia foi preservada na tradição socialista principalmente nas escolas da União Soviética aonde o ensino médio era dual composto por uma rede de escolas técnicas.

O artigo trata também das diferentes afirmações de Manacorda e de Saviani sobre a educação politécnica ou tecnlógica em Marx.

Saviani é o único defensor da educação politécnica que enfrenta a questão de semântica. A noção de politecnia se encaminha na direção da superação da dicotomia entre trabalho manual e trabalho intelectual, entre instrução profissional e instrução geral. [...] A noção de politecnia contrapõe-se a essa idéia, postulando que o processo de trabalho desenvolva, em unidade indissolúvel, os aspectos manuais e intelectuais. [...] Politecnia diz respeito ao domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas que caracterizam o processo de trabalho produtivo moderno. (Saviani, 2003, passim)

Nesse sentido, os estudos de Manacorda concluem enfaticamente:[...] o "politecnicismo" sublinha o tema da "disponibilidade" para os vários trabalhos ou para as variações dos trabalhos, enquanto a "tecnologia" sublinha, com sua unidade de teoria e pratica, o caráter de totalidade ou omnilateralidade do homem. [...] O primeiro destaca a idéia da multiplicidade da atividade [...]; o segundo, a possibilidade de uma plena e total manifestação de si mesmo, independentemente das ocupações específicas da pessoa. (Manacorda, 1991, p. 32)

Nos anos 1990, o termo politecnia operou semanticamente como um freio à reflexão sobre a proposta educacional socialista. Pouco a pouco, nós, educadores marxistas, aceitamos nos tornar especialistas do ensino médio profissional, legitimando assim, indiretamente, a dualidade do ensino.

Certamente, um nome é fator de distinção, de união, de força, de direcionamento. É uma bandeira. Mas é também um fator de separação, fonte de novas ambigüidades, causa de engessamento teórico e de limitação ideológica. Os programas escolares inspirados nos valores da liberdade, da justiça e da igualdade precisam ser atualizados constantemente, e nem sempre um nome-bandeira nos ajuda nessa empreitada.

O próprio Manacorda o confessa. Entretanto, os educadores, cuja função principal é ajudar os “filhotes” dos homens (de todos) a se tornarem homens livres, justos e contemporâneos, não podem esquecer de atualizar seus conhecimentos, sua linguagem, seus métodos e programas escolares.

Nesse sentido, a expressão “onilateral” é feliz, porque conota o conjunto. Mais tarde, Gramsci utiliza o termo “unitário”, que acrescenta ao conjunto dos aspectos educacionais a idéia de integração. Todavia, tanto a expressão “onilateral” como “unitário” acentuam o sentido quantitativo, isto é, que abrange todos os aspectos. Se indagássemos sobre qual seria a categoria fundante e estruturante da fórmula pedagógico-escolar marxista, eu creio que deveríamos recorrer à categoria antropológica de liberdade plena para o homem, todos os homens.

Gramsci desenvolve muito bem esse “germe marxiano” da unitariedade educacional, por isso afirma que, assim como todos os homens são intelectuais, os intelectuais também são trabalhadores, pois nem o trabalho braçal dispensa o cérebro, nem o trabalho intelectual dispensa o esforço muscular nervoso, a disciplina, os tempos e os movimento.

Para educarmos o homem do futuro precisamos idealmente ultrapassar os limites burgueses do trabalho alienado e nos inspirar no conceito marxiano de trabalho coextensivo à existência humana.

O Planeta se tornou uma enorme sala de aula, uma oficina imensa e um campo aberto de disputas. Encontrar as formas adequadas de interagir com os semelhantes e com a natureza é um desafio tremendo para um jovem; a escola-dotrabalho não pode se omitir de orientá-lo nesse desafio.

Essa concepção de escola de rigor científico e de liberdade responsável aproxima-se da idéia de escola de tempo integral, ou melhor, de educação plena.

Não é fácil determinar os conteúdos escolares que o mundo atual exige do cidadão moderno.

Em outras palavras, sei que muitas pessoas alcançam algum grau de liberdade até mesmo pela escola técnica ou por uma formação profissional precoce, pela escola popular pública ou noturna de baixa qualidade. Compete, porém, aos educadores lutarem para abrir caminhos (escolas) mais apropriados e eficientes, a fim de que todos alcancem a liberdade que o atual momento de evolução da história possibilita. Em outras palavras, o educador não pode jamais perder de vista o horizonte de liberdade plena, concreta e imanente como objetivo fundamental da educação.

Ao afirmar que necessidade e liberdade sincronicamente se fundem, afirma-se também que a revolução que promove a passagem da necessidade para a liberdade é um processo constante, fruto das lutas de cada dia.

Aos educadores, porém, compete abrir os canais educacionais mais adequados para que todos sejam cada vez mais livres. Creio ter sido essa a idéia que orientou Gramsci e seus colaboradores de Ordine Nuovo quando, em 1920, criaram uma escola para os trabalhadores: “Nossa idéia central era: como podemos nos tornar livres?” (Gramsci, 1987, p. 622).